quarta-feira, 7 de julho de 2010

(des)arranjar-me - post de finalização do blog

Que lugar ocupam os meus desejos? Poderia eu organizá-los tal como livros e objetos em prateleiras, sem que percam ou engessem, por sua vez, sua dimensão pululante, repleta de possibilidade e devires?
Porque um livro é uma possibilidade. Aguarda à espreita, é organizado com seu título à mostra para que possa ser retirado, folheado, reordenado... E também para que nos leve a algum lugar, um lugar de experimentação, de arranjo intelectual, de memória.
E um desejo é uma potência, um algo que atravessa e entremeia o que somos e o que queremos ser, pode ser acessado a qualquer momento e redimensionado de acordo com o lugar que em nós ocupa.
Nesse sentido, nem os livros nem os desejos podem ser ordenados de modo estático. Eles devem acontecer, estar à mostra, de acordo com sua possibilidade e necessidade de uso. Há livros e desejos de sempre, de toda hora, há livros e desejos que são preciosidades, há livros e desejos que ocupam um lugar mais técnico, profissional, mas que nem por isso deixam de ser agradáveis.
Sim! É claro que existem os livros (e também os desejos) que parecem não ter lugar, que parecem não encontrar seus pares, e ficam dimensionados a um lugar terceiro, a um espaço de trânsito e de rearranjo constante. Não que com os outros livros (os de toda hora, os preciosos e os técnicos) essa reorganização seja impossível... Pelo contrário! Ela é tão justa e necessária, contudo é agenciada geralmente entre seus iguais. Os livros e desejos sem lugar atravessam todas as micro-partes, podem ser combinadas e tensionadas com qualquer outra espécime de vontade ou literatura.
Mas uma prateleira não é feita somente de livros... Também uma vida não é feita somente de desejos. É feita de marcas, de imagens avulsas, de projetos futuros, de objetos coletados em viagens e memórias. É feita de preocupações e objetos de uso cotidiano e breve. Há nela uma organização momentânea, um arranjo que se designa a ser o melhor possível para aquele momento. Uma brevidade absoluta de todas as coisas, latente tanto quanto os títulos e os desejos.
A própria prateleira é sujeita a rearranjos de toda a ordem. Seja de lugar no quarto, de quarto, ou até de casa... Sujeita a receber em seus espaçamentos outros livros, outra cor, outros objetos.
Essa possibilidade de mudança e de movimento constitui um sentido importante para que as prateleiras e para que as vidas existam, aconteçam (no sentido de se fazerem presentes, de não estarem à deriva)... Nem vidas nem prateleiras são possíveis sem reordenamentos constantes.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

shimbalaiando

"Poder rodar sem fronteiras
Viver um ano em segundos
Não achar sonhos besteira
Me encantar com um livro, que fale sobre vaidade
Quando mentir for preciso, poder falar a verdade"

(Shimbalaiê - Maria Gadu)

Imagem: Fotografia de Cristian Mossi

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

carta secreta III - na esperança de não ter mais o que dizer

A algumas luas já não posso adentrar teus olhos, sorrir teu sorriso, aconchegar-me em teu cheiro. Estranho sentir que devo escrever-te agora, principalmente porque algo em mim diz que tais palavras nem chegarão a teu coração. Sei apenas que agora é meu coração que está em jogo, perdido entre as chances de continuar e as forças que persistem em tentar fazer-me ficar aqui parado, neste mesmo lugar, ainda escrevendo-te.

Talvez tenha sido este meu erro (se é que existem erros ou acertos em assuntos como este), ter vivido nossa história em meio a retóricas que eu mesmo inventei pra mim. E somente pra mim. Ter construído impérios e castelos que não podem ser ocupados, tendo de ser agora desfeitos em ritmos que não compactuam com os desejos de não mais sofrer.

O que posso garantir é que não mais me reconheço entre as frases que outrora escrevi, e menos ainda nas que tu jogas-te ao vento. Há tempos não escuto aquelas nossas músicas e já reinventei outras cores para o pôr-do-sol que um dia foi nosso. A cada dia arranco você de mim mais um pouco e, por mais que me doa, nem as lembranças boas podem restar de tudo isso. Infelizmente elas fazem parte de uma amálgama que formula tudo o que nós fomos um dia e agora não mais podemos ser. Estão maculadas de um ardor amargo que faz com que até do teu rosto eu não consiga mais me lembrar com clareza.

Sim. O que vivemos permanece suspenso em algum lugar, mas que a cada dia estende-se mais para fora de mim.

Ao mesmo tempo em que queria muito que tivesse sido diferente, estou podendo aos poucos entender que as cirandas do tempo não são estanques e as possibilidades de dias felizes são inúmeras, mesmo sem o que você foi em mim um dia.

Mesmo que possa parecer o contrário, não te desejo mal algum, mas que tenhas o que você mesmo puder conquistar, longe de meus olhos.

Abraços vazios,

daquele que um dia viu em você o próprio bem.


Imagem: Fotografia de Cristian Mossi

por um segundo

Existem momentos que de tão inesquecíveis, enfeitam o coração de uma alegria calma e plena que é capaz de flutuar depois do tempo... Pra sempre!

Imagem: Fotografia de Cristian Mossi

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

sortilégios

Balões coloridos e barquinhos de papel, encantando nossos pedidos de ano novo...

Nesse ano quero mais que paz no meu coração, quero ele em festa para navegar por territórios desconhecidos, subvertendo as cirandas do tempo em movimentos que superam o novo.


Imagem: Fotografia de Cristian Mossi.


sábado, 2 de janeiro de 2010

ressignificações


Se não esperássemos tanto, nos surpreenderíamos mais!

Imagem: Fotografia de Cristian Mossi

Oxalá!

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

experimentar para renovar-se

Ano passado, utilizei esse mesmo espaço para dizer coisas que tinham a ver com ‘perseverar’. Nesse novo ano, pelo contrário, o que desejo a todos e especialmente a mim mesmo, encontra-se no justo oposto dessa palavra.

Perseverar, no sentido que me utilizei a mais ou menos 365 dias, encontrava seu maior anseio em dar continuidade a certas coisas, permitir tantas outras e perseguir uma trilha iniciada ainda em 2008. Pois o que mais desejo agora, é que 2010 seja um ano realmente novo. Com cheiro, som, gosto e textura de coisa nova, tirada do forno, tinindo em folha.

Não se trata aqui de bater os sapatos e dizer que de 2009 não se leva nem a terra, tampouco de degenerar as experiências desse ano que, cá entre nós, teve lá seu charme, porém sem tanto esplendor como poderia ter sido. Trata-se simplesmente de transfigurar o novo tempo que se inicia para viver o não vivido, sonhar o não sonhado, provar o não provado e, correndo até o risco de dizer um daqueles clichês de final de ano, simplesmente renovar-se.

Conhecer um lugar que não conheço. E, por que não, mudar-me para lá;

Experimentar um sabor combinado a outro que eu jurava que nunca daria certo;

Começar a aprender uma língua nova ou um instrumento novo.

Mudar a sala e o quarto de lugar, ainda que por poucos dias;

Destruir os castelos e os impérios construídos em 2009. Optar, pelo menos por um tempo, por construções mais simples e itinerantes;

Apaixonar-me todos os dias por mim mesmo, por uma idéia nova, por um aroma inesquecível;

Desenhar mais;

Correr menos;

Fazer novos amigos, inventar novos códigos;

Entender mais as entrelinhas, acreditar menos no que não vale à pena;

Traçar mais metas em curto prazo;

Aprender origami;

Dançar;

Ampliar essa lista para outras mil possibilidades;

Enfim, o que desejo é entender o passado não como algo que passou, mas como algo que talvez tenha já começado sem perspectivas de se fazer presente. Entender o presente como o eterno retorno das coisas que realmente têm valia. A duração do instante que será sempre o futuro agora.

Feliz ano novo!

Imagem: Fotografia de Cristian Mossi

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Imagem: Obra de Leonilson, fonte: http://www1.folha.uol.com.br

ziguezagueando

- brigadeiro com bolacha maria

- flores para decorar a sala

- banho quente depois da chuva

- som de violoncelo

- roupa nova

- desenhos a lápis-de-cor

- risos frouxos

- música antes de dormir

- móbiles de tsurus

- chá de rosas

- dançar, dançar, dançar...


Imagem: Cristian Mossi